martes, 7 de octubre de 2008

XANGÔ

Talvez estejamos diante do Orixá mais cultuado e respeitado
no Brasil. Isso porque foi ele o primeiro Deus Iorubano, por
assim dizer, que pisou em terras brasileiras.
Xangô é um Orixá bastante popular no Brasil e às vezes
confundido como um Orixá com especial ascendência sobre os
demais, em termos hierárquicos. Essa confusão acontece por
dois motivos: em primeiro lugar, Xangô é miticamente um rei,
alguém que cuida da administração, do poder e,
principalmente, da justiça - representa a autoridade constituída
no panteão africano. Ao mesmo tempo, há no norte do Brasil
diversos cultos que atendem pelo nome de Xangô. No
Nordeste, mais especificamente em Pernambuco e Alagoas, a
prática do candomblé recebeu o nome genérico de Xangô,
talvez porque naquelas regiões existissem muitos filhos de
Xangô entre os negros que vieram trazidos de África. Na
mesma linha de uso impróprio, pode-se encontrar a expressão
Xangô de Caboclo, que se refere obviamente ao que
chamamos de Candomblé de Caboclo.
Xangô é pesado, íntegro, indivisível, irremovível; com tudo isso,
é evidente que um certo autoritarismo faça parte da sua figura e
das lendas sobre suas determinações e desígnios, coisa que
não é questionada pela maior parte de seus filhos, quando
inquiridos.
Suas decisões são sempre consideradas sábias, ponderadas,
hábeis e corretas. Ele é o Orixá que decide sobre o bem e o mal.
Ele é o Orixá do raio e do trovão.
Na África, se uma casa é atingida por um raio, o seu proprietário
paga altas multas aos sacerdotes de Xangô, pois se considera
que ele incorreu na cólera do Deus. Logo depois os sacerdotes
vão revirar os escombros e cavar o solo em busca das pedrasde-
raio formadas pelo relâmpago. Pois seu axé está concentrado
genericamente nas pedras, mas, principalmente naquelas
resultantes da destruição provocada pelos raios, sendo o
Meteorito é seu axé máximo.
Xangô tem a fama de agir sempre com neutralidade (a não ser
em contendas pessoais suas, presentes nas lendas referentes a
seus envolvimentos amorosos e congêneres). Seu raio e
eventual castigo são o resultado de um quase processo judicial,onde todos os prós e os contras foram pensados e pesados exaustivamente. Seu Axé, portanto está
concentrado nas formações de rochas cristalinas, nos terrenos rochosos à flor da terra, nas pedreiras, nos
maciços. Suas pedras são inteiras, duras de se quebrar, fixas e inabaláveis, como o próprio Orixá.
Xangô não contesta o status de Oxalá de patriarca da Umbanda, mas existe algo de comum entre ele e
Zeus, o deus principal da rica mitologia grega. O símbolo do Axé de Xangô é uma espécie de machado
estilizado com duas lâminas, o Oxé, que indica o poder de Xangô, corta em duas direções opostas. O
administrador da justiça nunca poderia olhar apenas para um lado, defender os interesses de um mesmo
ponto de vista sempre. Numa disputa, seu poder pode voltar-se contra qualquer um dos contendores, sendo
essa a marca de independência e de totalidade de abrangência da justiça por ele aplicada. Segundo Pierre
Verger, esse símbolo se aproxima demais do símbolo de Zeus encontrado em Creta. Assim como Zeus, é
uma divindade ligada à força e à justiça, detendo poderes sobre os raios e trovões, demonstrando nas
lendas a seu respeito, uma intensa atividade amorosa.
Outra informação de Pierre Verger especifica que esse Oxé parece ser a estilização de um personagem
carregando o fogo sobre a cabeça; este fogo é, ao mesmo tempo, o duplo machado, e lembra, de certa
forma a cerimônia chamada ajerê, na qual os iniciados de Xangô devem carregar na cabeça uma jarra cheia
de furos, dentro da qual queima um fogo vivo, demonstrando através dessa prova, que o transe não é
simulado.
Xangô portanto, já é adulto o suficiente para não se empolgar pelas paixões e pelos destemperos, mas vital
e capaz o suficiente para não servir apenas como consultor.
Outro dado saliente sobre a figura do senhor da justiça é seu mau relacionamento com a morte. Se Nanã é
como Orixá a figura que melhor se entende e predomina sobre os espíritos de seres humanos mortos,
Eguns, Xangô é que mais os detesta ou os teme. Há quem diga que, quando a morte se aproxima de um
filho de Xangô, o Orixá o abandona, retirando-se de sua cabeça e de sua essência, entregando a cabeça de
seus filhos a Obaluaiê e Omulu sete meses antes da morte destes, tal o grau de aversão que tem por
doenças e coisas mortas.
Deste tipo de afirmação discordam diversos babalorixás ligados ao seu culto, mas praticamente todos
aceitam como preceito que um filho que seja um iniciado com o Orixá na cabeça, não deve entrar em
cemitérios nem acompanhar a enterros.
Tudo que se refere a estudos, as demandas judiciais, ao direito, contratos, documentos trancados,
pertencem a Xangô.
Xangô teria como seu ponto fraco, a sensualidade
devastadora e o prazer, sendo apontado como uma figura
vaidosa e de intensa atividade sexual em muitas lendas e
cantigas, tendo três esposas: Obá, a mais velha e menos
amada; Oxum, que era casada com Oxossi e por quem
Xangô se apaixona e faz com que ela abandone Oxossi; e
Iansã, que vivia com Ogum e que Xangô raptou.
No aspecto histórico Xangô teria sido o terceiro Aláàfin
Oyó, filho de Oranian e Torosi, e teria reinado sobre a
cidade de Oyó (Nigéria), posto que conseguiu após
destronar o próprio meio-irmão Dada-Ajaká com um golpe
militar. Por isso, sempre existe uma aura de seriedade e de autoridade quando alguém se refere a Xangô.
Conta a lenda que ao ser vencido por seus inimigos, refugiou-se na floresta, sempre acompanhado da fiel
Iansã, enforcou-se e ela também. Seu corpo desapareceu debaixo da terra num profundo buraco, do qual
saiu uma corrente de ferro - a cadeia das gerações humanas. E ele se transformou num Orixá. No seu
aspecto divino, é filho de Oxalá, tendo Yemanjá como mãe.
Xangô também gera o poder da política. É monarca por natureza e chamado pelo termo obá, que significa
Rei. No dia-a-dia encontramos Xangô nos fóruns, delegacias, ministérios políticos, lideranças sindicais,
associações, movimentos políticos, nas campanhas e partidos políticos, enfim, em tudo que gera habilidade
no trato das relações humanas ou nos governos, de um modo geral.
Xangô é a ideologia, a decisão, à vontade, a iniciativa. É a rigidez, organização, o trabalho, a discussão
pela melhora, o progresso social e cultural, a voz do povo, o levante, à vontade de vencer. Também o
sentido de realeza, a atitude imperial, monárquica. É o espírito nobre das pessoas, o chamado “sangue
azul”, o poder de liderança. Para Xangô, a justiça está acima de tudo e, sem ela, nenhuma conquista vale a
pena; o respeito pelo Rei é mais importante que o medo.
Xangô é um Orixá de fogo, filho de Oxalá com Yemanjá. Diz a lenda que ele foi rei de Oyó. Rei poderoso e
orgulhoso e teve que enfrentar rivalidades e até brigar com seus irmãos para manter-se no poder.

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