Xangô, quando viveu aqui na Terra, era um grande Obá (rei), muito temido e
respeitado. Gostava de exibir sua bela figura, pois era um homem muito
vaidoso. Conquistou, ao longo de sua vida, muitas esposas, que disputavam um
lugar em seu coração.
Além disso, adorava mostrar seus poderes de feiticeiro, sempre
experimentando sua força.
Em certa ocasião, Xangô estava no alto de uma montanha, testando seus
poderes. Em altos brados, evocava os raios, desafiando essas forças
poderosas. Sua voz era o próprio trovão, provocando um barulho
ensurdecedor. Ninguém conseguia entender o que Xangô pretendia com essa
atitude, ficando ali por muito tempo, impaciente por não obter resposta. De
repente, o céu se iluminou e os raios começaram a aparecer. As pessoas
ficaram impressionadas com a beleza daquele fenômeno, mas, ao mesmo
tempo, estavam apavoradas, pois nunca tinham visto nada parecido.
Xangô, orgulhoso de seu extremo poder, ficou extasiado com o
acontecimento. Não parava de proferir palavras de ordem, querendo que o
espetáculo continuasse. Era realmente algo impressionante!
Foi, então, que, do alto de sua vaidade, viu a situação fugir ao seu controle.
Tentou voltar atrás, implorando aos céus que os raios, que cortavam a Terra
como poderosas lanças, desaparecessem. Mas era impossível - a natureza
havia sido desafiada, desencadeando forças incontroláveis!
Xangô correu para sua aldeia, assustado com a destruição que provocara.
Quando chegou perto do palácio, viu o erro que cometera. A destruição era
total e, para piorar a situação, todos os seus descendentes haviam morrido.
Ao ver que o rei estava muito perturbado, seu próprio povo tentou consolálo
com a promessa de reconstruir a cidade, fazendo tudo voltar ao que era
antes. Xangô, sem dar ouvidos a ninguém, foi embora da cidade.
Ele não suportou tanta dor e injustiça, retirando-se para um lugar afastado,
para acabar com sua vida. O rei enforcou-se numa gameleira.
Oyá, quando soube da morte de seu marido, chorou copiosamente, formando
o rio Niger. Ela, que tinha conhecimento do reino dos eguns, foi até lá para
trazer seu companheiro da morte, que veio envolto em panos brancos e com
o rosto coberto por uma máscara de madeira, pois não podia ser
reconhecido por Ikú, o Senhor da Morte. Xangô ressurge dos mortos,
tornando-se um ser encantado. E foi assim que surgiu uma nova forma, ou
qualidade, desse orixá, a qual chamamos Airá. Essa variação da essência de
Xangô adotou, além do vermelho, a cor branca.
Outra lenda nos dá conta que Xangô, com sua irresistível aparência, atraía
muitas mulheres. Era muito vistoso, com seus cabelos trançados e os
enfeites de cobre em seu corpo. Possuía muitas esposas, como Obá e Oxun.
Oxun era a mais bela esposa de Xangô, muito mais vaidosa do que ele,
dispensando grande parte de seu tempo para enfeitar-se e, assim, poder
agradar seu amado.
Xangô apreciava muito sua companhia e o esforço que fazia para fazê-lo
feliz.
Obá não tinha o mesmo tratamento, por isso, sentia-se rejeitada. Ela era
muito possessiva em seus relacionamentos e não suportava mais essa
situação.
Oxun havia percebido que Obá a invejava e queria roubar-lhe o companheiro.
Muito faceira e com ares de superioridade, começou a contar vantagens
para a rival, que fingia não se importar. Dizia que Xangô adorava um certo
quitute preparado com um ingrediente muito especial: um pedaço de orelha.
Obá acreditou nela, pois, naquele momento, Oxun estava com um torço
amarrado na cabeça. Embora parecesse estranho, devia ser tudo verdade,
pois Xangô estava enfeitiçado por Oxun.
Juntando muita coragem e determinação, Obá cortou fora sua orelha para
preparar o tal prato.
Xangô chegou bem na hora e viu o sangue que escorria da cabeça de Obá.
Preocupado, quis saber o que havia acontecido com ela. Quando soube do
acontecido, ficou enfurecido com Obá, por pensar em oferecer-lhe uma
comida tão esquisita!
Percebendo a mentira de Oxun, saiu furiosa à sua procura para ajustarem
contas.
Xangô separou as duas rivais, que se transformaram em rios. Obá foi
embora desse reinado e nunca mais voltou
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